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A capoeira é um dos maiores símbolos da identidade cultural brasileira. Complexa, rica e surpreendente, ela é luta, jogo e dança ao mesmo tempo, misturando beleza, habilidade física, astúcia e malícia. Mais do que uma prática corporal, a capoeira é um patrimônio imaterial que traduz a história de resistência e criatividade do nosso povo, unindo música, canto, movimento e tradição em uma manifestação única no mundo.
O que a diferencia das demais modalidades esportivas é exatamente a sua essência múltipla. Ao som do berimbau, do pandeiro e do atabaque, acompanhada por palmas e cânticos, a roda de capoeira se transforma em palco de expressão corporal, exercício físico, aprendizado cultural e, acima de tudo, de integração humana. Para além da técnica, ela promove valores essenciais, como cooperação, respeito, disciplina e autoestima.
É nesse espírito que nasceu o Projeto ICS – Inclusão Cultural e Social – Capoeira Basã, uma iniciativa sem fins lucrativos que há mais de duas décadas transforma vidas em Hortolândia e Sumaré. O projeto, hoje desenvolvido no Salão Comunitário do Jardim Novo Horizonte/Taquara Branca e no Assentamento I, reúne cerca de 70 alunos, entre crianças, adolescentes e adultos. Todas as aulas são oferecidas de forma gratuita, fruto do trabalho voluntário do mestrando Galego e do professor Tiririca, que dedicam tempo e energia para levar não apenas o ensino da capoeira, mas também uma proposta de vida baseada em valores éticos e sociais.
A história do projeto começou em 2001, ainda dentro da escola do bairro, vinculado ao programa Escola da Família, que oferecia atividades nos finais de semana. Quando o programa encerrou suas atividades, a comunidade não deixou que o sonho fosse interrompido. Em 2013, nasceu oficialmente o Projeto ICS, agora realizado no salão comunitário, reafirmando o compromisso de continuar o trabalho iniciado anos antes.
Pouco tempo depois, em 2015, surgiu o Grupo Capoeira Basã, formado por graduados e professores experientes, que decidiram unir esforços em torno de um ideal maior: usar a capoeira como ferramenta de transformação social, sem jamais se desligar de suas raízes. O nome “Basã” carrega um significado profundo: “terra fértil”. Uma metáfora perfeita para o que o grupo representa — um espaço onde se planta disciplina, cultura, autoestima e cidadania, para colher jovens e adultos mais conscientes, fortes e preparados para a vida.
O impacto desse trabalho voluntário é visível. Mais do que bons atletas, o projeto busca formar cidadãos. A prova viva disso é a trajetória do professor Tiririca, que iniciou sua jornada como aluno ainda em 2001 e, hoje, é um dos responsáveis por conduzir o projeto. Sua história inspira e confirma a filosofia de que a capoeira vai além da roda e dos golpes: ela é um instrumento de inclusão, de educação integral e de construção de uma sociedade mais justa e solidária.
Ao longo dos anos, o Projeto ICS – Capoeira Basã vem alcançando objetivos que vão muito além da prática esportiva. Entre eles, desenvolver a coordenação motora, estimular o equilíbrio e a musicalidade, valorizar a cultura brasileira e preservar suas raízes. Cada roda de capoeira é também um espaço de aprendizado coletivo, onde o respeito às regras, a cooperação e a disciplina andam lado a lado com o condicionamento físico e a descoberta de hábitos saudáveis.
Mais que uma luta ou uma dança, a capoeira se mostra aqui como ferramenta de transformação social. Em um mundo marcado pela pressa, pela violência e pelo individualismo, o Projeto ICS – Capoeira Basã surge como um verdadeiro contraponto: uma roda de união, resistência e esperança, onde cada canto, cada movimento e cada história fortalecem a identidade cultural brasileira e semeiam um futuro mais humano para todos.