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* Por Ricardo Ferreira
Sonhos, quem não os tem.
Depois de algum tempo verifiquei que sonhar é uma constante da vida. Longe ficam os pensamentos utópicos de um mundo melhor ao sabor do nosso desejo.
Todos intimamente temos a noção e sabemos que, quando jovens, somos mais irreverentes, sonhadores e acreditamos em belas e lindas histórias, em fadas e duendes, nos Deuses do Olimpo e por vezes no Pai Natal (que nos traz os presentes tão almejados e desejados), no Coelhinho da Páscoa que nos enche de chocolates e amêndoas (adoro), e em todos e tudo, o que significa alegria, bondade, felicidade e veracidade.
Somos felizes quase sempre e com pequenas coisas e coisas bem pequeninas, em parte devido à inocência e sinceridade subjacentes à criança e ao jovem.
Queremos é brincar, saltar, rir, ao deus-dará, sem olharmos para o amanhã.
A pura inocência é sinônimo de felicidade.
Consoante vamos crescendo e, de acordo com aquilo que a vida nos dá, adaptamo-nos às responsabilidades das mesmas.
Aprendemos com os nossos progenitores e educadores que viver é supostamente ter e assumir responsabilidades. E aí começa o nosso calvário evolutivo que nos preparará para os anos vindouros.
Pois quanto mais “responsáveis” nos tornamos, mais rapidamente perdemos a criança que existe em nós e, consequentemente, a inocência e pureza a ela inerentes.
Os sonhos nesta fase de crescimento e maturidade ficam distantes dos ilusórios da nossa juventude, mas mesmo assim eles continuam a perseguir-nos, pois essa busca inalterável e persistente de aprendizagem e realização provoca-nos cotidianamente.
Chegando à fase adulta e já amadurecida por alguns sonhos desfeitos e mal paridos, deparamo-nos com imensas contradições, absurdos e contrassensos. Nessa altura os sonhos substituem-se pouco a pouco, e a realidade (ou aquilo que está a nossa volta), toma conta das nossas mentes.
Tornamo-nos talvez mais racionais. A emoção, a vibração e a trepidação da juventude são em parte substituídas pela coerência e segurança nos atos e atitudes (deveria ser assim).
As frases supostamente sábias aparecem nas falas sábias supostamente, “já não sou mais criança”, “isso fazia quando era menino”, “coisa de criança”, e por aí vai, num emaranhado de dizeres afirmativos, como se fosse obrigatório afirmarmos algo a nós próprios.
Sem darmos conta e com a maior das naturalidades, somos pais, mães, deixamos de ser unicamente filhos, para sermos também chamados a sonhar novamente com o amanhã. A frase ouvida anos antes se repete na nossa memória, “filho és, pai serás”.
Assim, tão naturalmente como crescemos e nos transformamos em adultos, hoje somos pais, e ao sabor do vento e das ondas voltamos a ser crianças, aos nos colocarmos ao mesmo nível dos nossos pequenos filhos ou dos nossos netos (quem os tem), para com eles voltarmos a rir, a dar gargalhadas, a brincar, a rebolar no chão, a contar e ouvir aquelas histórias, das fadas e dos duendes, do pequeno príncipe e da princesa, da bruxa má e da gata borralheira, e retomarmos os sonhos por um país melhor, por um mundo mais justo e equilibrado, onde haja paz de espírito, compreensão entre os homens e o abraço fraterno seja verdadeiro e onde:
“O sonhar seja uma constante da vida”.